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Minha sona



Furries foram importantes pra mim desde bem cedo e foi na minha adolescência que eu comecei a usar personagens furry para me expressar e explorar sentimentos que eu não me sentia confortável explorando de outra forma. Na época eu não pensava muito sobre isso; eu não percebia que o que eu estava fazendo era explorar minha identidade. Nesse mesmo período da vida eu também tinha o hábito de, em noites que eu não conseguia dormir de jeito nenhum, me imaginar vividamente como um lobo: correndo no mato, sendo livre numa liberdade física e social que eu sentia que me era inalcançável.

Uma vez aos 14 anos eu criei um personagem durante alguma aula com a intenção de que ele fosse o mascote de um shonen de lutinha que eu tinha absoluta certeza que eu iria fazer algum dia. O personagem era, obviamente, furry, sendo um tipo de alienígena gato-cachorro que também parecia o Gryz do Phantasy Star IV, que eu orgulhosamente tinha fechado no ano anterior num level mais baixo do que o gamefaqs sugeria. Aquele personagem se tornou um veículo de auto-expressão enquanto eu o movia de história descartada para história descartada, sendo o único personagem meu a sobreviver aos eventos apocalípticos que aconteciam o quando amadurecimento do meu gosto como leitor me fazia perceber que minhas ideias anteriores eram bem ruins.

Outro evento importante nessa época foi que eu joguei a versão de PS1 do Dragon Quest VII. O jogo virou um dos meus favoritos por causa de quão único era o seu jeito de contar a história e quão bem feito ele era apesar da apresentação não ser muito polida. Mais importante, contudo, é o fato de que um dos personagens, Gabo, era um lobo que virou gente: eu tinha tanta inveja dele por ter tido a experiência de ser um lobo e eu mal conseguia esconder esse fato de mim mesmo. Contudo, como eu não achava que isso era algo que eu deveria estar sentindo, eu escondi isso bem fundo em mim mesmo, mas não fundo o suficiente para evitar que o conceito de ter sido um lobo aparecesse em vários personagens que eu criava e rapidamente descartava.

Na faculdade eu estudei para um diploma que eu não queria de verdade mas acabei aceitando por um tempo já que eu pensava que fazer arte era impossível. Ainda assim, arte era tudo que ocupava minha mente e eu desenhava sempre que podia. Eu lembro de desenhar aquele velho personagem furry o tempo todo nas margens das minhas anotações, nem me lembro se a esse ponto ele ainda era parte de uma história maior. Alguns anos depois eu criei um personagem furry num estilo mais cartum que eu pretendia usar pra contar uma história meio slice of life. Apesar de isso não ter dado em muita coisa, um amigo que estava largando a faculdade pra tentar viver de arte me deu uma Wacom Bamboo que ele tinha e me disse que eu devia tentar desenhar digitalmente... e eu nem tentei por tipo um ano, porque eu tinha um medo vergonhoso de que arte digital fosse menos real de alguma forma. Mas uma hora eu acabei deixando isso de lado, e era 2019: eu li Beastars, eu criei o Sotz e o Eméti, eu desenhava furries em proporções mais realistas e não sentia mais vergonha disso! Não só isso, foi nessa época que eu me toquei da existência de artistas furry na internet. A arte deles melhorou muito minha auto-estima por desenharem personagens gays que eu sentia que pareciam muito mais comigo do que as coisas que eu via em outros espaços gays.

A quarentena atingiu cada um de um jeito e eu não pretendo falar muito sobre isso. Foi nessa época, contudo, que eu comecei a postar arte na internet. A necessidade de ter um ícone na maior parte das redes sociais fez com que tanto o Sotz quanto o Eméti fossem frequentemente vistos como minha sona. Não era bem esse o caso, pra mim eles sempre foram algo separado. Eles eram Ocs, não sonas, porque eles não eram exatamente "eu" e eu não conseguia de jeito nenhum fazer um personagem que eu me sentisse confortável vendo como sendo eu mesmo...

Em 2022, contudo, eu curti um tweet do meu amigo Griff -- que na época era só um mutual -- dizendo algo como "tantos furries coitoes por aí! somos uma grande matilha". Minha curtida fez o Griff me mandar uma DM perguntando se eu tinha uma sona coiote, e eu não tinha! Mas enquanto nós conversávamos eu me convenci de que dessa vez eu finalmente faria uma sona, e aí o Amosh nasceu.

Eu tentei usar o Amosh como minha sona por um tempo mas não deu muito certo. Foi divertido e eu usei ele pra explorar várias ideias como um fetiche em mijo que eu não tinha me permitido reconhecer antes. Mas ainda assim, eu comecei a ver ele como um personagem muito diferente de mim mesmo. No ano seguinte, contudo, Doldrum fez um desenho em que ele queria me por, e aí ele pegou o design velho do Amosh e mudou ele pra meio que inventar uma sona pra mim... e eu gostei bastante! Eu acho que o Amosh acabou ficando sério demais, mas a maneira que o Doldrum me desenhou era mais leve e mais bobinha. E aí aquele personagem virou minha sona, oficialmente.

Durante 2023 eu não desenhei ele tanto assim, mas durante 2024 eu comecei a gostar cada vez mais da minha sona. Doldrum desenhou ela bastante, outros amigos também e eu comecei a rabiscar ela o tempo todo. Isso tudo ficou mais forte quando amigos com quem eu transei ou amei num sentido mais geral começaram a me tratar que nem um lobo, se referindo a mim como um, comparando coisas que eu faço e hábitos que eu tenho com aqueles de um cachorrinho. Ser reconhecido como um lobo fez nascer em mim um sentimento que eu agora reconheço como euforia.

Então, minha sona se tornou eu. Ela se tornou a forma que eu habito. Eu reconheça nela o lobo que eu sempre quis ser -- ou, melhor, que eu sempre fui. Um desenho ela é tanto uma representação de mim como uma foto ou um auto-retrato. E eu amo ela, e me amo mais quando me amo através dela. Eu ficaria feliz se você acabasse amando ela também.


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